domingo, 16 de novembro de 2014

Galileu, Ciência e o Chimpanzé Sorridente

Este é um artigo que eu traduzi do Thomas Woods Jr., do dia 12 de agosto de 2008, que ele criou para responder as críticas que ele recebeu de um site, o The Smirking Chimp (algo como Chimpanzé Sorridente) diante de suas afirmações a respeito do caso de Galileu e a Igreja Católica.

Resolvi traduzir este artigo pois, apesar de fazer referências ao cenário político americano de então, além de servir de exemplo de como funciona a mentalidade de algumas pessoas diante do contraditório, também conta um pouco sobre a história da ciência e da treta com o Galileu na época.



Não faz muito tempo, alguém do site chamado "O Chimpanzé Sorridente" viu um episódio da minha série "Igreja Catolica: Construtora da Civilização" (baseado no meu livro "Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental") e me repreendeu pelos meus comentários a cerca de Galileu. De acordo com o Chimpanzé, meu único argumento foi: "Galileu tinha apenas uma teoria e não alguma prova irrefutável".

"Com este tipo de lógica," ele continua a alertar, "como um eleitor poderia analisar sutilmente os méritos relativos de difíceis questões morais?" Hã? Como assim?

Seu argumento (o melhor o que eu pude entender) é que pessoas como eu marretam argumentos sobre questões sutis e, assim, o ponto que eu levantei sobre Galileu poderá induzir católicos a fazerem decisões eleitorais pobres. (Veja se você consegue entender alguma coisa mais coerente).

Eu vou ignorar este estranho ponto de que se não fosse por causa do aborto, os católicos com certeza perceberiam que "tudo em sua visão de mundo" iria fazê-los votar num capacho como Barack Obama. Se te interessar, eu não apoio nenhuma das personalidades vazias que os partidos principais nos oferecem, já que ambos são perigosos para a economia e não oferecem esperanças para a política externa (qualquer pessoa que pense que Obama realmente representa "mudança" não anda bem prestando atenção nele ou em sua equipe).

Os três pontos que eu estava apresentando no episódio do documentário que o Sr Chimpanzé assistiu não são nem um pouco controversos e, mesmo assim, ele não entendeu nenhum deles. O primeiro foi que ainda era intelectualmente respeitável ser geocentrista na época de Galileu. Os geocentristas do século 17 não eram imbecis que recusaram, ou foram incapazes, de entender um simples argumento. Tycho Brahe não era exatamente um idiota e ele não foi convencido por Galileu. A tentativa deste de usar as marés como evidência do movimento da Terra dificilmente iria ser levada a sério. Além disto, ele não podia responder a objeção principal dos geocentristas sobre a paralaxe das estrelas, o que eu expliquei detalhadamente no mesmo episódio que meus críticos andam a reclamar. Então, descrever o caso de Galileu como carente de provas irrefutáveis é o mínimo que qualquer um pode dizer a respeito.

(Claro, meus críticos não mencionam nada disto. Tudo para caricaturar minha posição e fazer parecer que eu estou simplificando as coisas demais.)

O segundo ponto foi que, apesar que eu não defender o que aconteceu com Galileu, sendo este caso um dos velhos argumentos contra a Igreja, eu não creio que não tenha sido razoável para eclesiásticos como Rober Bellarmine ter hesitado ao reinterpretar versos bíblicos com um olhar heliocêntrico até que fossem apresentadas provas mais persuasivas. Isso parece ser bom senso.
O meu ponto final foi que o caso de Galileu foi uma exceção incomum, e que é absurdo usá-lo para taxar o velho jargão de sempre que pessoas religiosas são estúpidas, enquanto ateístas e céticos seriam os grandes avatares do progresso ocidental. Um século atrás, este consenso estava resumido nos dois volumes de History of the Warfare of Science with Theology in Christendom, que continua a ser a posição que a maioria das crianças aprendem na escola, apesar que qualquer historiador competente de hoje em dia dê risadas com desdém toda vez em que escutam esta história.

Não muito depois, Pierre Duhem fez um trabalho pioneiro na história da ciência que mostrou que as doutrinas da Igreja foram claramente aliadas, e não obstáculos, do progresso científico no ocidente. O trabalho acadêmico de Duhem foi escandalosamente negligenciado até que Stanley Jaki ajudou a resgatá-lo da obscuridade, no fim do século XX.

Acadêmicos católicos e não-católicos dedicaram as últimas seis décadas derrubando as teses sem defesa de White - dentre eles, Edward Grant, David Lindberg, A. C. Crombie, Thomas Goldstein, J. L. Heilbron e Stanley Jaki. De forma reveladora, a Teaching Company, cujas palestras são tão moderadas e inofensivas quanto o possível, a fim de não alienar os seus clientes, rejeita categoricamente esta visão mais antiga e reafirma as contribuições da Igreja para a ciência ocidental até 1700. Em outras palavras (como todo mundo que sabe alguma coisa a cerca da história da ciência), eles estão de acordo com o consenso moderno sobre o assunto.

Desde o século XVIII, o ocidente operou sobre um sorrateiro mito iluminista: a influência da Igreja no mundo foi de obscurantismo e repressão, e que o progresso da nossa civilização se deu nas mãos de céticos religiosos. Esta suposição tem levado a inúmeros erros no trabalho acadêmico ocidental, enquanto professores universitários seguiram evidências que eles achavam que iriam levá-los onde eles pensavam que iria levá-los, ao invés de onde elas realmente levariam. Levaram dois séculos para se romper com esta muralha auto-imposta de ignorância.

Não foi até os anos 50 que nós aprendemos como instrumentais os Escolásticos Tardios foram quando desenvolveram a ciência econômica, séculos antes de Adam Smith. Apenas nas últimas duas décadas que nós descobrimos plenamente que a extensão dos direitos naturais fluíram dos canonistas e dos papas da Alta Idade Média. A verdade acerca da influência da Igreja na ciência começou a emergir no meio do século 20. Sobre este assunto é o que meu livro trata.

E foi sobre este contexto da minha discussão acerca de Galileu - não que você ficaria sabendo disto lendo a crítica, pois o pobre autor não sabe nada sobre as últimas descobertas dos historiadores da ciência. Não que ele tenha algo com o que se preocupar: ninguém mais sabe delas também. Apesar disto, repetir o velho clichê da Igreja ser inimiga do progresso, devido a ignorância de seis décadas de trabalhos acadêmicos, vai fazer você ganhar os aplausos dos medíocres - e você pode ter certeza que com ninguém do Chimpanzé Sorridente vai ser diferente - mas isto não vai fazer você menos estúpido ou desonesto, e esta é a razão pela qual eu gastei meu tempo refutando isto.

Fonte: http://www.catholicity.com/commentary/woods/04259.html

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